No vasto universo dos filmes de terror existe uma franquia chamada "O chamado". Um sucesso no início dos anos 2000. As tramas (no plural, porque houveram vários filmes) basicamente narravam mortes de pessoas que recebiam, depois de assistir um vídeo amaldiçoado, uma ligação. Nela o ouvinte era avisado que lhe restavam 7 dias.
Na nossa trama, no nosso universo vermelho com traços infernais, faltam 7 dias. Falar disso sem citar o começo da história desse filme é um tanto vazio. Preciso lembrar vocês que isso começou em Medellín, numa batalha sonolenta que se passou no dia do nosso aniversário. Na garra e na bravura de Lucca, que serviu Alan Patrick, arrancamos um ponto valioso na Colômbia.
Recebemos na rodada seguinte o Metropolitanos. Um jovem franco-atirador venezuelano que tem idade para ser filho da maioria que estão lendo isso. Num Beira-Rio animado pela volta da Libertadores, vencemos com muita doação e dificuldade. O gol no fim de Alemão (Uh!) deu os três pontos para o Colorado.
O Nacional veio nos visitar. O amigo do nosso inimigo também é nosso inimigo. Jogamos muito, criamos inúmeras situações, mas fomos castigados. Os uruguaios acertaram duas bolas na direção do gol. E as duas beijaram as redes.
Na sequência, cruzamos o continente para jogar num estádio enorme e às moscas na Venezuela. Com mais emoções do que o necessário, conseguimos superar o Metropolitanos - um time que merece respeito pela valentia e organização que tentou ter.
Tensão na ida ao Uruguai. Chegamos nas terras charruas sabendo que uma derrota nos deixaria virtualmente eliminados. Saímos na frente, jogamos bem (de novo!) e fomos punidos no fim. Empate amargo que deixou o Internacional com a obrigação de vencer o Independiente Medellín na última rodada.
E a torcida Colorada abraçou o time. Numa quarta chuvosa às 19h, o Beira-Rio foi tomado por quase 40 mil pessoas que empurraram o Internacional a uma vitória regida pela autoridade e segurança, que rendeu um suspiro aliviado e uma noite de sono um pouco mais qualificada para os de vermelho. Classificados para as oitavas!
O sorteio foi cruel. Um River Plate avassalador, de grandes nomes e com um fator casa assustador em números e na prática entrou no nosso caminho. A derrota na Argentina doeu sobretudo pela sensação de que poderíamos ter voltado com ao menos um empate. Mas novamente, uma nação precisou levar no braço o seu melhor amigo.
Com uma festa noticiada no mundo inteiro, as fendas do inferno se abriram na Pe. Cacique e com todos requintes de crueldade, emoção e sacanagem, o Internacional e sua gente conseguiram a remontada diante do ótimo River Plate. Uma atuação fantástica castigada com um gol sofrido no fim que levou a decisão aos pênaltis que pareciam intermináveis era o que precisávamos para lembrarmos da nossa grandeza. Naquela noite, os sonhos mais ambiciosos foram liberados sem que alguém tivesse o direito de taxá-los como loucura.
A sensação boliviana Bolívar era o que vinha a seguir. A altitude assustava. Assusta. Assustará quando voltarmos. Mas bem é verdade que subimos os 3600 metros de La Paz e quem parecia sentir eram os donos da casa. Valencia, na chance que teve, disparou um petardo que até hoje rodopia na rede de Lampe. A vitória chegou a ficar em segundo plano diante da partida excepcional que fizemos.
Na volta, fizemos o que tinha que ser feito. 2x0, festa, shows da torcida, Enner Valencia, Sergio Rochet e dos demais guerreiros que estiveram em campo. Atrás de um dos gols, uma organizada esticou um enorme bandeirão com os dizeres: "A história diz quem somos".
Saber o fim de um filme antes de acabar, ainda mais um tão bom como esse, não tem graça. É necessário desfrutar. Apreciar. Não se trata somente do sonho com uma glória que fica marcada para a eternidade. É mais do que isso: estamos nos lembrando do quão grande somos. E isso era imprescindível. Não existem façanhas sem que alguém se anime a sonhá-las.
Quem viu as fitas da Samara Morgan na franquia que carrega o nome dessa crônica, teve uma morte horrível. Sabendo do seu inevitável e trágico futuro 7 dias antes. É, Fluminense. Faltam 7 dias.
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